O público brasileiro se deliciou nos últimos dias com sucessos do Guns N’ Roses interpretados pelo guitarrista da lendária formação da banda, Slash, em seis shows dele com o Myles Kennedy & The Conspirators pelo país.
O Guns segue existindo, mas totalmente desfigurado, tendo à frente o remanescente vocalista Axl Rose, que abriu uma disputa com os ex-companheiros no início da década de 1990 para manter o mítico nome do grupo, culminando com a saída de Slash, em 1996. Desde então, parece improvável que os pilares de “Paradise City”, “Sweet Child O’Mine” e outros tantos clássicos possam um dia tocarem juntos.
Em entrevista à Rolling Stone Brasil, no entanto, um importante personagem da história do desmanche do quinteto norte-americano garantiu que pode colocar Axl Rose e Slash lado a lado novamente. O autoproclamado salvador da pátria é Doug Goldstein, empresário apontado pelo guitarrista como o pivô da separação do Guns N’ Roses.
“…[ Goldstein ] estivera galgando os degraus estrategicamente. Era como um predador numa emboscada. Embora ninguém tenha sido mais responsável pela dissolução do Guns do que o próprio Guns, Doug Goldstein foi um catalisador. Suas técnicas para dividir e conquistar foram um instrumento para a chegada do nosso fim”, escreveu Slash em livro homônimo de 2007, publicado no Brasil pela Editora Ediouro.
Ainda segundo o artista, Goldstein se aproximou de Axl Rose para substituir o ex-agente do grupo, Alan Niven, e sempre foi “permissivo” com o bandleader, que poderia fazer o que bem entendesse. Rose, inclusive, continuou sendo agenciado por Goldstein até 2002, quando teriam se separado por um novo entrevero.
Por telefone, o acusado negou tudo e se defendeu. “Adoraria encontrar Slash e esclarecer isso porque a verdade é que nós fomos por sete anos as pessoas que cuidaram dos negócios da banda. Eu dobrei o valor das comissões que eram pagas a eles. Amo Slash até a morte, é uma das minhas pessoas preferidas no mundo inteiro e por alguma razão ele está com essas ideias”, disse.
Um dos motivos da rejeição a ele seria o antecessor Niven, que teria chegado ao ponto de contratar um especialista em magia negra na cidade de Nova Orleans depois que foi dispensado do cargo.
“Todos os dias depois do trabalho ele ia para o quarto, colocava uma capa preta e praguejava contra Axl e eu. Eu estava no Havaí, levando minha vida e Neven surgiu, fez amizade de novo com Slash e Duff [McKagan, baixista original do Guns] e tomou crédito de tudo que eu fiz. Depois, Slash me disse que Niven tentou transar com a namorada dele”.
Goldstein também teria levado injustamente a culpa pelo contrato que o ex-membros do grupo assinaram passando o nome Guns N’ Roses para Axl Rose. “E naquele dia meu filho nasceu, a gente não estava nem no mesmo continente, eles estavam em Barcelona e eu estava na Califórnia, eles me confundiram com o empresário da tour porque andavam bebendo bastante naquele tempo e não lembram”.
A despeito de tudo isso e de uma suposta ideia de Rose de acrescentar um terceiro guitarrista, nada teria sido mais importante para a separação da parceria musical do que um fator que, afirma o agente, passou desapercebido pelo público: uma parceria com Michael Jackson.
“Em 1991, estávamos na estrada, Slash foi até minha sala e disse, ‘estou partindo amanhã para tocar com Michael Jackson em um show tributo’. Disse para ele não fazer isso porque Axl foi molestado pelo pai quando tinha dois anos e acreditava nas acusações contra Michael Jackson. Todo mundo sabia que Eddie Van Halen recebeu US$ 1 milhão pela participação em “Beat It”. Então, perguntei ao Slash, ‘quanto você vai receber, posso negociar isso para você?’ e ele disse, ‘eu só vou receber uma televisão de tela grande”.
“Quando Axl descobriu que ele ia tocar com Michael Jackson e que o pagamento era um TV de tela grande, ficou arrasado. Ele achou que Slash iria apoiá-lo e ficaria contra todo o abuso. Do ponto de vista do Axl, esse era o único problema. Ele poderia ignorar as drogas e o álcool (com os quais o guitarrista teve sérios problemas), mas nunca poderia ignorar o abuso infantil”. Slash gravou participações em várias músicas do Rei do Pop, entre elas, “Black or White”.
Bastaria, portanto, algumas palavras para juntar o velho Guns. “Slash teria que se desculpar pelo episódio com Michael Jackson. E realmente acredito que pelo tanto que amo a banda eu seria o empresário que os reuniria de novo, não acho que alguém mais poderia fazer isso”.
Determinado a refundar o ícone do final do século XX, o empresário fez até um pedido à reportagem. “Sou um cara muito amoroso, espiritual e me magoa que ao invés de me perguntar como eu sinto e perguntar sobre essas coisas que Niven criou, Slash simplesmente acredite que elas são verdadeiras e me jogue para os leões. Amo Slash como um irmão, ele é o irmão mais novo que eu não tive, faria tudo por ele. Faça um favor, diga que espero muito sentar com ele aonde ele quiser para contar meu lado da história”.