Principal convenção de quadrinhos e cultura pop do Rio Grande do Sul, a ComicCON RS acontece nos dias 22 e 23 de agosto de 2015, no Campus da Ulbra em Canoas, região metropolitana de Porto Alegre. Em sua quinta edição, o evento traz diretamente de Londres o controverso roteirista britânico Peter Milligan, de títulos como Hellblazer, X-Force, Batman e The Names, os latinos Rodolfo Santullo e Leandro Fernandez e mais de 40 convidados nacionais, entre eles Fábio Moon, Gabriel Bá, Rafael Albuquerque, Gustavo Duarte e Vitor e Lu Cafaggi.
Com atrações variadas como painéis, debates, exposições, sessões de autógrafos, salas temáticas e um amplo Artists Alley para artistas independentes, a convenção realizada pela Produtora Multiverso este ano homenageia o icônico jornalista e editor Sidney Gusman, fundador do Universo HQ e coordenador de planejamento editorial da Mauricio de Sousa Produções, responsável pelo fenômeno Graphic MSP.
Sidão, o nosso super-herói homenageado
Ao dedicar sua vida aos quadrinhos, Sidney Gusman tornou-se um super-herói de carne e osso cultuado e admirado por fãs do país inteiro – uma espécie de ídolo nacional dos nerds, geeks e adoradores de gibis. Nunca vestiu uma capa, mas seu disfarce de jornalista o levou a se tornar um dos maiores especialistas em quadrinhos do Brasil, com passagens por grandes redações como Folha de S. Paulo, Estadão, Wizard e Superinteressante. Na virada dos anos 2000, fundou o site Universo HQ, hoje o principal veículo especializado no gênero e vencedor de dez troféus HQMix.
Tanto conhecimento fez com que fosse parar na linha de combate, criando para si uma nova identidade como editor. Se já prestava um incrível serviço como jornalista, foi aí que Sidney revelou seus superpoderes. Valiosas contribuições em editoras de peso como Conrad, Globo, Abril e Panini abriram caminho para o maior de todos os encontros desde Superman e Muhammad Ali: Sidão e Mauricio de Sousa. De 2006 pra cá, assumiu a área de planejamento editorial da Mauricio de Sousa Produções e revolucionou um clássico como a Turma da Mônica, sucesso indiscutível ao longo de 50 anos, mas sempre rondado pela ameaça de vilões complexos como a transição da infância para a juventude e o domínio das novas tecnologias.
Derrotou todos eles com criatividade e um senso de mercado visionário que ajudou a criar fenômenos como a Turma da Mônica Jovem, a coleção MSP 50 – Mauricio de Sousa Por 50 Artistas e o selo Graphic MSP, talvez a maior sacada editorial da história recente dos quadrinhos brasileiros. Ao propor releituras autorais por artistas independentes, foi como se convocasse a sua própria Liga da Justiça, contando com heróis respeitados desse universo como Danilo Beyruth, Vitor e Lu Cafaggi, Cris Peter e Gustavo Duarte. Se é exagero dizer que Sidão salvou o mundo, ele no mínimo contribuiu para elevar a arte sequencial a um outro patamar de respeito e popularidade no país, além de ter influência direta em milhares de adolescentes continuando a ler gibis e outros muitos adultos voltando a ler quadrinhos, tudo reflexo de seus incríveis feitos como jornalista, editor, colecionador e, claro, leitor apaixonado.
Isso explica por que, mesmo sem jamais ter desenhado ou escrito sequer um roteiro, Sidney Gusman foi escolhido como homenageado da ComicCON RS 2015. Uma maneira de celebrar sua trajetória e agradecer por sua presença e apoio constante desde a primeira edição da convenção gaúcha, através da entrega da Medalha Renato Canini. Líder, guia, oráculo, mentor… seu legado dentro do gênero lembra uma passagem do Homem de Aço: “Você vai dar às pessoas um ideal para lutar. Vão correr atrás de você, vão tropeçar, vão cair. Mas com o tempo, elas vão acompanhá-lo ao sol. Com o tempo, você vai ajudá-los a realizar maravilhas!”. Com a palavra, Sidão, o nosso super-herói homenageado!
ComicCON RS– O público gostou muito do seu anúncio como homenageado da ComicCON RS #5, por perceber a paixão e a dedicação que você tem pelos quadrinhos. Como você recebe esse reconhecimento?
Sidão – Confesso que, quando o Émerson [organizador da ComicCON RS] me convidou achei que ele tinha ficado maluco. Não sou hipócrita de dizer que não sei da contribuição que dei e dou ao mercado de quadrinhos, desde que nele estreei, em 1990. Mas é que, na minha cabeça, esse “posto” só seria ocupado por autores, nunca por um editor e jornalista!
CCRS – Você esteve em quase todas as edições do evento, incluindo a primeira, lá em 2011, quando ele era menor e quase experimental. É uma espécie de padrinho, o que se comprova agora com a homenagem. Como você enxerga a trajetória da ComicCON RS e o que espera dela para o futuro?
Sidão – Fico muito feliz, porque vi o evento crescer, ganhar corpo e, aos poucos, ir ganhando ares mais profissionais. E o principal: conquistar o carinho do público. Afinal, sem a presença dos fãs não há evento que floresça. Por isso é tão legal ver a ComicCON RS em franca evolução. É um processo que não pode parar nunca.
CCRS – A coleção Graphic MSP [através dos artistas Vitor e Lu Caffagi, Eduardo Damasceno e Garrocho, Gustavo Duarte, Cris Peter, Paulo Crumbim e Cristina Eiko] vai estar em peso na ComicCON RS. Como você avalia o projeto, agora que ele está consolidado?
Sidão – O projeto Graphic MSP é um presente que ganhei na carreira. Sempre vou agradecer ao Mauricio por ter permitido que eu desse seguimento à ideia. Hoje, os álbuns são um sucesso absurdo, os autores se tornaram muito mais conhecidos e são os que mais autografam em eventos e, principalmente, é sensacional ouvir de muita, mas muita gente mesmo, que esses trabalhos fizeram aquelas pessoas voltar a ler quadrinhos! Sim, não apenas ler personagens do Mauricio, mas ler quadrinhos. Então, acho que é uma bela contribuição para formar o mercado juvenil/adulto de bancas, que considero algo tão necessário.
CCRS – Desde que você começou a trabalhar com quadrinhos, alguma vez imaginou que um dia eles seriam o fenômeno de popularidade que são hoje? Como jornalista, editor e fã, o que acha que ainda vem pela frente?
Sidão – Penso que hoje e nos dias que virão colheremos os frutos que a minha geração e as anteriores plantaram lá atrás. Hoje é legal ser nerd. Que bom! Que continue assim. Que mais e mais gente descubra como quadrinhos são fantásticos e quantas “viagens” eles podem proporcionar, nos mais variados gêneros.
Por: Sortimentos