A ópera encontrou nos últimos tempos um novo lugar onde exibir sua opulência: a sala de cinema. Graças a projetos como o Festival Ópera na Tela, que começa nesta terça (19/1) na Capital, os apreciadores do drama lírico têm conseguido assistir a grandes montagens que, por conta da custosa produção, raramente chegam aos palcos brasileiros. Porto Alegre é a única cidade gaúcha a receber o festival, que até julho vai projetar 13 óperas no Espaço Itaú de Cinema, sempre às terças-feiras (18h) e aos sábados (15h). A estreia será com um dos títulos mais populares do repertório operístico: Rigoletto, de Giuseppe Verdi (1813 – 1901).
Ópera em três atos com libreto de Francesco Maria Piave, Rigoletto estreou no teatro La Fenice, de Veneza, em 11 de março de 1851. A história trágica do bobo da corte que tenta afastar sua filha Gilda das garras do devasso Duque de Mântua ficou célebre graças à beleza da partitura do compositor italiano, que inclui algumas das passagens mais conhecidas do gênero – como as árias La donna è mobile e Questa o quella e o quarteto Bella figlia dell’amore.
No livro Uma História da Ópera, Carolyn Abbate e Roger Parker identificam a peça como um decisivo ponto de inflexão na trajetória do mais popular autor de óperas da história, rompendo com paradigmas: “Rigoletto foi, outra vez, modelado para e criado por Felice Varesi (barítono), cujo tamanho mirrado e feiura o faziam muito adequado para o papel, e cuja melodramática aparência exterior como o personagem ‘errado’ (deformado e, assim – segundo os códigos melodramáticos da época –, maligno) poderia então ser contradita por sua presença dramática e seu talento para comover audiências”.
A versão de Rigoletto que será exibida nos cinemas é a exuberante montagem que o diretor canadense Robert Carsen apresentou em 2013 no Festival de Aix-en-Provence, na França. O encenador ambientou a trama no picadeiro de um circo, incluindo ousadias como as da primeira cena, em que acrobatas e dançarinas burlescas seminuas desfilam pelo palco durante o baile no palácio do Duque. Quem encarna o bufão corcunda é o barítono georgiano George Gagnidze, enquanto o tenor mexicano Arturo Chacón Cruz vive o Duque de Mântua, e a soprano russa Irina Lungu interpreta Gilda. Já a direção musical do italiano Gianandrea Noseda, à frente da Orquestra Sinfônica de Londres e do Coro Filarmônico de Câmara da Estônia, valeu-lhe o prêmio de maestro do ano no Musical America Award, em 2014.
A seleção de obras desse primeiro semestre do Festival Ópera na Tela traz outras montagens inovadoras, como a Camen de Olivier Py, com figurinos e cenários que remetem a um espetáculo de cabaré, e O Barbeiro de Sevilha de Damiano Michieletto, que se passa em um bairro popular de uma cidade espanhola contemporânea. Merece destaque também a escolha de algumas óperas menos conhecidas e/ou encenadas, como Alceste, de Gluck, Os Capuleto e os Montéquio, de Bellini, A Noiva do Czar, de Rimsky-Korsakov, e O Rapto no Harém (também conhecida como O Rapto do Serralho), de Mozart. Por fim, uma raridade: Os Pescadores de Pérolas, de Bizet, dirigida pelo cineasta Fernando Meirelles no ano passado no Theatro da Paz, em Belém do Pará.
Confira a programação:
– Rigoletto, de Verdi. Nesta terça, 19/1 (18h), e sábado, 23/1 (15h).
– A Flauta Mágica, de Mozart. Dias 2/2 (18h) e 6/2 (15h).
– Aida, de Verdi. Dias 16/2 (18h) e 20/2 (15h).
– A Noiva do Czar, de Rimsky-Korsakov. Dias 1º/3 (18h) e 5/3 (15h).
– O Rapto no Harém, de Mozart. Dias 15/9 (18h) e 19/3 (15h).
– Norma, de Bellini. Dias 29/3 (18h) e 2/4 (15h).
– Alceste, de Gluck. Dias 12/4 (18h) e 16/4 (15h).
– Tosca, de Puccini. Dias 26/4 (18h) e 30/4 (15h).
– Os Pescadores de Pérolas, de Bizet. Dias 10/5 (18h) e 14/5 (15h).
– Don Giovanni, de Mozart. Dias 24/5 (18h) e 28/5 (15h).
– O Barbeiro de Sevilha, de Rossini. Dias 7/6 (18h) e 11/6 (15h).
– Os Capuleto e os Montéquio, de Bellini. Dias 21/6 (18h) e 25/6 (15h).
– Carmen, de Bizet. Dias 5/7 (18h) e 9/7 (15h).
Por: ZH