Em 2016, quando conversei com Tony Bellotto, guitarrista do Titãs, sobre a ópera rock que a banda estava compondo, logo após a saída de Paulo Miklos e a adaptação de Beto Lee, perguntei qual era o motivo de trazer está novidade para o Brasil, ele, sempre atencioso, me respondeu: “Nenhum motivo especial. Só a vontade de fazer uma coisa diferente, nunca ousada no rock tupiniquim. É bom poder ser original depois de 34 anos de carreira.”
Fiquei curioso, para ver o que seria essa reformulação após três décadas de banda. Então, hoje tive a oportunidade de escutar o novo disco ‘Doze Flores Amarelas‘, a primeira ópera rock do Brasil. Primeiro que é uma grande afronta dos Titãs em trazer a ideia para o povo brasileiro, já que poucos conhecem este conceito e não procuram discos como ‘The Wall’ e ‘Tommy’ nas lojas. Segundo que os temas que a banda procurou abordar são polêmicos e poucos têm a coragem de falar, como a violência, o assédio, relacionamento entre pais e filhos, vingança, ódio, paixão e o impacto da tecnologia na vida das pessoas.
‘Doze Flores Amarelas’ conta a história de três estudantes universitárias ingressantes (Maria A, Maria B, Maria C) que usam um aplicativo de celular para descobrir alguma festa para ir. Durante a noite, acabam violentadas por cinco colegas, e o crime gera consequências para todos os envolvidos. Cada uma das três Marias lida com o acontecimento de maneira diferente, mas acabam se unindo no final para uma vingança.
Narrada por Rita Lee, a história do disco é assinada por Hugo Possolo e Marcelo Rubens Paiva. Há uma certa desconfiança quando você pensa em dois homens escrevendo sobre o machismo e mais três homens cantando sobre as violências sofridas pelas mulheres. Mas é essa essência, o machismo precisa ser combatido pelo próprio homem e o trabalho que Tony Bellotto, Sérgio Britto e Branco Mello começaram é essencial.
As três cantores/atrizes Corina Sabbas, Cyntia Mendes e Yas Werneck, são competentes e participam de partes pontuais do disco, mas acabam sendo ofuscada pelos três Titãs. Talvez se usassem mais um pouco do talento das meninas, poderiam despertar um interesse maior em quem prefere a perfeição da história.
O primeiro do ato do disco é falando sobre a ida das três Marias à festa. As canções mais interessantes são “Disney Drugs“, que fala sobre o livre acesso de drogas em festas, e “Me Estuprem“, esta manda uma mensagem direta ao assédio sexual sofrido por mulheres e a culpabilização da vítima. O segundo ato é sobre a separação das três meninas e as consequências que aquela festa lhe causaram, o destaque é para “Eu Sou Maria“, que narra um aborto. Também surge o espirito de vingança nas meninas e o ato acaba com “Essa Gente Tem Que Morrer“. Já o terceiro e último ato conta a finalização da vingança das meninas matando os responsáveis por causar dor e sofrimento nelas. Nesta parte conhecemos a música tema do disco “Doze Flores Amarelas“, que explica o feitiço usado na vingança. O estilo das canções vai do punk rock ao acústico, passando por faixas orquestradas.
Resumindo, o disco renova as esperanças dos Titãs e do rock brasileiro. É uma novidade que poucos esperavam e pode despertar a ideia em muitas bandas que estão lutando por um single na rádio. ‘Doze Flores Amarelas’ é com certeza o maior trabalho da banda e um dos melhores.
Por Paulo Corrêa
Ouça o disco na íntegra: