Após passar por seis cidades brasileiras, finalmente Roger Waters chegou a Porto Alegre para encerrar a parte tupiniquim da turnê ‘Us + Them’. O ex-Pink Floyd se apresentou no estádio Beira Rio, na noite desta terça-feira (30).
O relógio marcava 20h30, quando a introdução de uma mulher sentada em uma praia deserta foi colocada no led gigantesco, provocando surpresa e aplausos. Roger Waters subiu ao palco com pontualidade britânica, às 21h. A primeira música já foi do Pink Floyd, “Breathe” com o guitarrista Gus Seyffert substituindo os vocais de David Gilmour.
Na sequência, foi a vez da instrumental “One of These Days“, dando um toque de cores no led. Roger foi aparecer nos vocais só na terceira, “Time/Breathe (Reprise)“. Sem dar muitas pausas, a banda já emendou outra instrumental, “The Great Gig in the Sky“, destacando os vocais da dupla Lucius.
A cada música, o led passava um clipe que chocava quem assistia, mas em “Welcome to the Machine” começou as verdadeiras críticas. Está canção, por exemplo, mostra a visão negativa de Waters a respeito da indústria musical e de toda a sociedade industrializada.
O disco solo de Roger Waters, ‘Is This the Life We Really Want?’, lançado em 2017, foi introduzido com a belíssima “Déjà Vu“, com versos fortes em alusão ao controle dos Estados Unidos nos bombardeios no Oriente Médio. Depois veio “The Last Refugee“, está ainda mais impactante por mostrar a moça que estava na praia durante a introdução da apresentação e a apresentando como uma refugida a espera de seu filho. Para encerrar o bloco de novas canções, teve “Picture That” com duras criticas aos lideres mundias entre eles o líder da Coreia do Norte Kim Jong-um, o ex-presidente do Conselho de Ministros da Itália Silvio Berlusconi e o ex-presidente dos EUA George W. Bush.
Roger pegou seu violão e tocou os primeiros acordes, um dos mais famosos da música mundial. Era a vez de “Wish You Were Here“, clássico do Pink Floyd e do rock. Nesta quem ficou com os vocais de David Gilmour foi o próprio Roger Waters, claro, e com ajuda de todo o estádio.
As luzes se apagarem e ouvimos um “You! Yes, you! Stand still laddy”, arrepiando todo mundo. A magnífica dobradinha do ‘The Wall’ estava por vir, “The Happiest Days of Our Lives” e “Another Brick in the Wall“. Durante a canção, crianças do projeto Ouviravida, de Porto Alegre, subiram ao palco vestindo camisetas com a mensagem “Resist”. Ao fim da música, a mensagem foi para o led e provocou gritos de “Ele Não”, em alusão ao presidente eleito Jair Bolsonaro, seus apoiadores responderam com algumas vaias. Roger pediu para que o público aplaudisse as crianças, mas nem isso foi atendido. E então ele avisou que dariam uma pausa de 20 minutos no show.
Durante este intervalo, o led foi passando algumas mensagens como “resita ao fascismo”, imagens de pessoas que lutam pelos direitos humanos e a famosa lista onde, segundo Waters, o neo-fascismo está em ascensão citando nomes como Donald Trump, Le Pen, Vladimir Putin e censurando o nome do presidente eleito Jair Bolsonaro.
Na volta do intervalo foi a vez de “Dogs“, a famosa música que dura 17 minutos. Antes, a Usina Termelétrica de Battersea, que serviu como capa do disco ‘Animals’, foi surgindo no led com suas quatro chaminés e porco pendurado. Roger voltou a fazer referência aos lideres mundiais os chamando de porcos.
Falaram tanto em porco, que foi a vez da canção que foi feita para eles: “Pigs (Three Different Ones)“. O alvo desta foi exclusivamente o presidente Donald Trump, caricaturas dele apareciam de diversas formas no led e provoca risos. Durante a canção surgiu um porco gigantesco na pista do estádio, com a frase “Seja Humano”.
O disco ‘The Dark Side of the Moon’ também esteve presente no setlist da apresentação. Primeiro apareceu com a clássica “Money” seguindo com “Us and Them“, ambas transmitindo uma forte mensagem no led, como desigualdade social. As outras do Dark Side foram “Brain Damage” e “Eclipse“, estás com certeza provocando um dos momentos mais emocionantes do show, quando a mãe refugiada encontrou seu filho, citado lá no começo do texto, e em seguida o famoso prisma sendo atingido por um feixe de luz o transformando em um arco-íris, provocando catarse na galera.
No fim, chuva que havia começado fraca no meio do show começou a tomar força com vários relâmpagos. Roger avisou que teria que cortar algumas canções do setlist para evitar o risco de raios. Então começou a tocar “Comfortably Numb“, outro clássico do Pink Floyd e do rock. Mesmo na chuva, o britânico fez questão de descer do palco para cumprimenta o público. Ele se despediu do Brasil pedindo para nós cuidarmos um do outro.
Não há palavras para descrever a emoção que foi presenciar este show. No auge de seus 75 anos, Roger Waters soube se preocupar com o público e projetou um verdadeiro espetáculo a céu aberto. Assim como os gaúchos se encantaram com o The Wall, estão anestesiados com a Us + Them. Foi um momento tão turbulento na nação brasileira, que precisávamos de momentos como este para recuperar as energias e foi isso que Roger nos proporcionou.
Está foi a terceira passagem de Roger Waters por Porto Alegre, a primeira foi em 2002 e a última há sete anos com a turnê The Wall. Agora ele segue para o Uruguai, onde toca na capital do país no próximo sábado (3).