Porto Alegre ficou de fora da turnê de Sandy e Junior em 2019. A dupla passará por 10 capitais até setembro. Curitiba é a única do sul a receber o show “Nossa História”. Uma das justificativas pela ausência de POA é a falta de um espaço de médio porte para receber a turnê. Leia-se: um espaço com capacidade de receber grande estrutura de palco e uma capacidade média de 15 mil pessoas. Mas a capital gaúcha não o possui.
E este problema em Porto Alegre é antigo. Desde os shows do Iron Maiden em 2008 e do Oasis em 2009 a segurança do Gigantinho como o principal local de shows em POA vem sendo questionada. Até que em 2013, após a tragédia ocorrida na Boate Kiss, em Santa Maria, a prefeitura da capital gaúcha interditou o ginásio do Internacional por falta de alvará e plano contra incêndios.
Logo após os bombeiros limitaram a capacidade do Gigantinho em 5.000 pessoas. Ou seja, podem ocorrer eventos no local desde que se respeite este limite. A exceção foi o show do Queen com Adam Lambert, em 2015, que teve uma inspeção especial do PPCI (Plano de Prevenção Contra Incêndio), para a realização do show. Por pouco o show não ocorreu. O ginásio teve seu PPCI aprovado apenas horas antes da abertura dos portões. Hoje em dia, somente os espetáculos do Disney on Ice ocorrem no espaço.
A cantora Ivete Sangalo, contratada pela Opus Promoções para tocar no local, anualmente, desde 2007, fez seu último show no Gigantinho em 2012. Desde então, nunca mais voltou à capital com as suas grandiosas turnês (esteve com o show “Ivete Intimista”, em 2013, no Araújo Vianna). A baiana, que arrasta multidões país afora, não encontrou local em Porto Alegre que atenda às suas exigências estruturais e técnicas.
Em 2016 o festival sertanejo Villa Mix realizou sua primeira edição porto alegrense no estacionamento do Estádio Beira Rio, local nunca usado para shows e improvisado pela produção. Confusão, espaço apertado, invasão de intrusos não pagantes, roubos e furtos foram algumas das reclamações dos que foram ao evento. No ano seguinte o festival foi pra Esteio, no Parque da Expointer, na região metropolitana, onde uma nova enxurrada de reclamações fez o festival não ter uma edição em 2018. Neste 2019 eles voltam à capital utilizando o bom e velho Anfiteatro Pôr do Sol (até 50.000 pessoas), em maio. Talvez vingue como espaço para grandes shows privados em Porto Alegre.
Percebe-se que a cidade não possui nenhum meio termo entre o Pepsi on Stage (5.500 pessoas) e os estádios Beira Rio – 50.000, e Arena do Grêmio – 55.000, e estes ainda (mesmo num formato de Anfiteatro) dependem muito de brechas no calendário do futebol brasileiro. Sem falar nas reclamações posteriores aos shows, tanto de dirigentes, quanto de jogadores e torcedores dos clubes com relação ao estado dos gramados após os espetáculos em seus estádios.
A cidade perde oportunidades de receber shows de médio/grande porte (15 mil a 30 mil) sem uma estrutura mediana. Em maio a cantora Lauryn Hill faz apresentação única em São Paulo, no Espaço das Américas (10.000 pessoas) e só não passará por Porto Alegre pois esta capacidade de público era exigência mínima da produção da cantora norte americana. Negociação houve. Mas esbarrou aí.
Se temos pequenas e médias casas de shows de boa (ou relativa) qualidade como o Auditório Araújo Vianna – 3.500 pessoas, como o Teatro do Bourbon Country – 1.100 pessoas, como o Opinião – 1.700 pessoas, como o Teatro do Sesi – 1.800 pessoas (apesar da localização) ou como o Pepsi on Stage – 5.500 pessoas (apesar do galpão de uma antiga fábrica no qual foi construído)… Por outro lado, ficamos órfãos do Gigantinho (15.000 pessoas) que hoje agoniza na avenida Padre Cacique, apesar de haver planos do Sport Club Internacional para o futuro do ginásio – transformá-lo numa arena multiuso, para shows e eventos esportivos, em parceria com investidores nacionais e/ou estrangeiros. Mas não há datas ou prazos para que isso aconteça.
Porto Alegre, que na última década foi a terceira cidade brasileira a receber mais shows internacionais, hoje tem sido preterida por capitais como Curitiba, Belo Horizonte e Brasília. Mas enquanto a situação não ganha um contorno inédito, ficamos restritos às ‘pequenas’ estruturas que nos sobrou e ficamos de fora da rota de turnês nacionais e internacionais.