O artista Vinícius Piedade apresenta Hamlet Cancelado no Teatro do SESC dia 6 de julho, sábado, às 19h. O texto, livremente inspirado em Hamlet, de William Shakespeare, foi escrito por Flávio Tonnetti em parceria com Vinícius, que assina também a direção. Fábio Vidal fez a orientação da encenação, figurino e cenário são deClaudia Schapira e Leo Ceolin respectivamente, e a trilha sonora original é de Manuel Lima. Este projeto foi contemplado pelo Programa de Ação Cultural (PROAC) da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Governo de SP e estreou em junho no Teatro Pequeno Ato, em São Paulo
Hamlet Cancelado mostra ao público um ator inconformado com o cancelamento da “maior montagem de Hamlet da cidade”. Sua insatisfação com a interrupção o move a narrar e representar à plateia – com os recursos que tem à mão – aquela que seria a peça montada pelo grande diretor, por quem nutre extremo orgulho e admiração.
O cancelamento chega, por meio do produtor da peça, em um áudio de 15 segundos, no WhatsApp. Mas como não estrear, após oito meses de ensaios, se ele já havia anunciado em suas redes sociais que participaria da grande montagem? Tudo estava ali: maquete, restos de cenário, figurino, objetos, retalhos de tecido, até as camisetas da seleção brasileira representando as camisetas da seleção dinamarquesa. Determinado, recorre ao público para que entenda seu drama, mas pede que mantenha segredo dessa que seria sua primeira e última performance do que teria sido esse grande Hamlet.
Em cena, o ator passeia por alguns dos papeis do texto shakespeariano, com foco principal nas falas do próprio Hamlet. Mas por ter sido o único “remanescente” da montagem cancelada, o personagem se identifica muito com Horácio, o único que sobrevive no drama original.
E é o conceito do que foram os Black Blocs na vida recente do país (e do mundo) que guia o diretor da peça cancelada para investigar a insubmissão hamletiana à luz da contemporaneidade. E esse ator descontente, que tenta desvendar ou entender essas escolhas da direção, acaba por colocar em cena também suas urgências pessoais, traçando um paralelo entre a rebeldia de Hamlet e os inconformismos políticos atuais. Há também uma reflexão sobre o próprio trabalho de ator. “O fato de termos em cena um artista que quer apenas exercer o seu ofício e não tem esse direito é muito semelhante ao que a classe artística vive hoje em dia”, diz Vinícius, complementando que o texto também passeia muito pelo humor, que é extraído da situação precária vivida pelo ator-figurante. “A todo tempo o público flagra essa empolgação que, em meio aos escombros, conta como as coisas seriam caso tivessem dado certo”.
A encenação ganhou orientação de Fábio Vidal, autor, diretor, professor e produtor e bacharel em teatro pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas (PPGAC) da mesma instituição, e detentor de uma pesquisa continuada que resultou em cinco espetáculos solo, sendo dos grandes criadores nessa linguagem no país. Assinou a dramaturgia da obra Álbum de Família, do Balé do Teatro Castro Alves e a direção dos espetáculos Casa número nada (2008) e Temporal (2009). Como ator, Fábio Vidal participou de diversas montagens, como Salmo 91, Murmúrios, Divinas Palavras, Os Acrobatas, Casa de Eros e Otelo. Integrou o elenco do longa-metragem O homem que não dormia (2012), com direção de Edgard Navarro, e do curta Joelma (um de seus solos teatrais), dirigido por Edson Bastos.
A criação do cenário, interrompido no meio do processo de criação, é de Leo Ceolin e quem assina o figurino inacabado que seria de Hamlet, é Claudia Schapira. “No palco há as estruturas do que seria o castelo presente na montagem, pedaços e peças de objetos cênicos, figurinos incompletos, áudios feitos em celulares, e até mesmo referências do que o suposto cenógrafo usaria para finalizar o trabalho, como revistas e fotografias”, adianta. “Esse lugar precário tem humor e fúria ao mesmo tempo – o ator é alguém embebido de paixão por essa peça, mas que também está extremamente frustrado por não poder apresentá-la ao público”, diz Flávio Tonnetti, coautor do texto, tratando a contrariedadecomo mais uma característica dramática do texto original de Shakespeare, que é transportada para Hamlet Cancelado.
Concepção da montagem
Como exemplo das temáticas contemporâneas que podem ser evocadas por Hamlet, o artista cita que Claudius (tio de Hamlet, responsável pelo assassinato do próprio irmão para que pudesse herdar a coroa do reino da Dinamarca) representa uma liderança autoritária e repressiva, como de governos totalitários que vêm tomando espaço no mundo inteiro. Já Hamlet é observado como alguém de temperamento revolucionário e que cria estratégias para alcançar seus objetivos.
As ruínas do que restou combinam o texto inglês às próprias memórias do ator, que costura sua narrativa com lembranças, confissões sobre paixões, sobre sua admiração pelo diretor, pelos técnicos e atores, com os quais conviveu durante os oito meses de ensaios.
“Hamlet Cancelado traz um Hamlet possível ao mundo dos discursos fragmentados e das fake news, dos conservadorismos e das barbáries digitais, buscando tratar dos atravessamentos vividos pelo sujeito contemporâneo que se constitui por meio da superexposição, por uma narrativa de si mesmo que substituiu os ‘5 minutos de fama’ pelo ‘empreendedorismo de si mesmo’”, conclui Vinícius.
Ficha Técnica
Texto: Flávio Tonnetti e Vinícius Piedade (livremente inspirado em Hamlet, de William Shakespeare)
Direção: Vinícius Piedade
Orientador de encenação: Fábio Vidal
Atuação: Vinícius Piedade
Trilha Sonora Original: Manuel Lima
Preparação Corporal: Kalassa Lemos
Figurino: Claudia Schapira
Cenário: Leo Ceolin
Iluminação: Vinicius Piedade
Operação de som e luz: Márcio Baptista
Design: Gustavo Binda
Fotos: Tati Wexler
Produção: Junior Cecon
Assistente de Produção: Denise Kafka
Assessoria de imprensa: Canal Aberto
SERVIÇO
Hamlet Cancelado
Dia: 6 de julho, sábado
Horário: 19h
Local: Teatro do SESC (Alberto Bins, 665 – Centro).
Ingressos: R$ 20,00 (inteira) e R$10,00 (meia)
Por: Michele Rolim
Duração: 90 minutos. Classificação: 14 anos.