Depois de três temporadas em São Paulo, chega a Porto Alegre a história de um travesti que alterna o seu tempo cuidando do filho adotivo de dia e tentando ganhar dinheiro à noite. Esse é o ponto de partida de “Entrega para Jezebel”, montagem do Teatro do Indivíduo, grupo paulista que tem direção de Rodolfo Lima e conta no elenco com Valéria Barcellos, Clodd Dias, (ambas atrizes negras e transexuais) e Daniel Sapiência. Bibi Santos completa o trio de artistas negras na ficha técnica, sendo responsável pela contrarregragem. A peça estará em cartaz na Sala Carlos Carvalho de 19 a 21 de julho, às 20h. Os ingressos custam R$ 30 (inteira), R$ 20 (antecipado) e R$ 15 (meia-entrada).
O espetáculomostra a vida de Jezebel, um travesti que tem como maior desejo ser mãe, mas que vive à sombra da transfobia. A maternidade é o ponto nevrálgico do enredo, já que ela cuida do filho de uma amiga, que retorna um tempo depois querendo reaver a guarda, fazendo com que o mundo de Jezebel desmorone.
Para o diretor Rodolfo Lima, a peça propõe um diálogo intimista e poético entre o público e as artistas selecionadas para o trabalho sobre o universo de mulheres transexuais. “Jezebel sonha em viver dentro do arquétipo do gênero feminino, que condiciona a mulher a uma casa, um marido, filhos e quem sabe virar uma artista famosa. Porém a travestilidade e a falta de oportunidade são empecilhos para a concretização de seus sonhos. O que está guardado para Jezebel diante da violência que sofre diariamente? Ela canta nas horas vagas, mas quem ouve o que ela tem a dizer? Travesti pode ser mãe? Pode ser artista? Consegue ter um relacionamento estável?”, indaga ele.
Transfake
Alçado à mídia em 2017 pelo Movimento Nacional de Artistas Trans (Monart), capitaneado pela atriz Renata Carvalho, o termo transfake(referência aos atores cisgêneros que interpretam personagens transexuais) foi o mote para que o autor piauiense Roberto Muniz Dias desenvolvesse a dramaturgia de “Entrega para Jezebel”. “O texto traz uma mensagem sobre a transfobia muito forte, mas com a presença e convívio com as atrizes percebi que a peça não podia ter só um recorte, pois havia mais coisas a serem abordadas. A questão racial foi acrescentada à questão trans, o colorismo veio de tabela, bem como a necessidade de representatividade dessas atrizes no meio artístico, inclusive interpretando personagens que se adequam ao seu gênero e não necessariamente falando sobre as questões de um corpo trans e/ou sua sexualidade”, diz Rodolfo, explicando ainda que Valéria faz a travesti Jezebel, mas que Clodd faz Joana, a mãe da criança.
Sobre Roberto Muniz Dias
Piauiense radicado em Brasília há 10 anos, é romancista, dramaturgo e mestre em Literatura pela Universidade de Brasília (UNB). Também formado em Direito, integra a Comissão de Tolerância e Diversidade Sexual da 93ª Subseção de Pinheiros da Ordem dos Advogados do Brasil – Seccional São Paulo. Foi premiado pela Fundação Monsenhor Chaves com menção honrosa pela obra Adeus Aleto. Publicou ainda Experientia – coletânea de suas primeiras peças de teatro, Um Buquê Improvisado, O príncipe – o mocinho ou o herói podem ser gays, Errorragia: contos, crônicas e inseguranças, Urânios, A Teia de Germano e Uma cama quebrada. Recentemente foi premiado pela FCP (Fundação Cultural do Pará) com o texto teatral As divinas mão de Adam como melhor texto teatral.
Sobre Rodolfo Lima
Ator, diretor de teatro e jornalista, é Mestre em Divulgação Cientifica e Cultural pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e pesquisaatualmente a relação entre teatro e gays para sua tese de doutorado. Como ator e diretor de teatro, trabalha com a literatura nacional e suas possibilidades em cena, e tem no seu currículo peças adaptadas da obra de Caio Fernando Abreu, Marcelino Freire, Fabrício Carpinejar e Eliane Brum. Em janeiro de 2015 realizou o evento Em Busca de Um Teatro Gay com ciclo de debates, apresentações teatrais e exposição que mapeiam aprodução gay da cidade de São Paulo na primeira década do século XXI. Seus trabalhos foram apresentados em diversos locais na capital e cidades do estado de São Paulo, além de Paraná, Rio Grande do Sul, Rio Grande do Norte, Ceará, Bahia, Rio de Janeiro, Pernambuco, Goiás e Minas Gerais. Mantém os blogs www.ilusoesnasalaescura.wordpress.com e www.escritossobreaausencia.wordpress.com, o primeiro com suas resenhas críticas de teatro e cinema e o segundo sobre seu processo criativo e informações sobre seus trabalhos.
FICHA TÉCNICA
Texto: Roberto Muniz Dias
Direção: Rodolfo Lima
Elenco: Clodd Dias, Daniel Sapiência e Valéria Barcellos
Cenografia: Jeff Celophane e Rodolfo Lima
Design Gráfico: Betinho Neto e Silas Lima
Fotos: Luciana Zacarias
Figurinos: Jeff Celophane e Karla
Cenotécnico: Renato Ribeiro
Produção Local: Obatalá Produções
Assistente de produção: Lucimara Amorim
Operação de luz: Eduardo Macedo
Operação de som: Rodolfo Lima
Contraregragem: Bibi Santos
Mediação Pedagógica (SP): Magô Tonhon
Assessoria de Imprensa (SP): Nossa Senhora da Pauta
SERVIÇO
Entrega para Jezebel
Quando: de 19 a 21 de julho | Sexta-feira | Sábado | Domingo
Horário: 20h
Onde: Sala Carlos Carvalho – 2º andar da CCMQ (Rua dos Andradas, 736)
Ingressos: R$ 30 (inteira- no dia), R$ 20 (antecipado) e R$ 15 (meia-mediante comprovantes)
Por: André Furtado