Texto: Filipe Pacheco
O retorno de artistas que deram uma pausa em suas atividades tem sido frequente nos últimos meses e anos. Recentemente, bandas como Sandy & Júnior, McFly, My Chemical Romance, Jonas Brothers, além da mais inesperada das reuniões, do Rage Against The Machine, e a recém-anunciada volta do Mötley Crüe, marcam um período curioso sobre o motivo que tem levado essas bandas a voltarem aos palcos.
Após anunciar ontem, dia 18, através de uma carta postada em seu site oficial e de um vídeo com narração do rapper Machine Gun Kelly — que viveu o baterista da banda, Tommy Lee, no filme biográfico ‘The Dirt‘ — o Mötley Crüe afirmou ter explodido seu contrato de não realizar mais shows. O documento impedia que algum membro viesse a usar o nome da banda com outra formação. Apesar da declaração do baixista Nikki Sixx à revista Rolling Stone, em fevereiro, de que a banda não voltaria a fazer shows, através da carta divulgada eles afirmam ter tomado a decisão de voltar após o grande sucesso do seu filme biográfico que estreou pela Netflix em março deste ano, no qual trouxe novos fãs à banda e um grande clamor pelo seu retorno. Ainda não há informações sobre um novo álbum ou datas para próximos shows. A banda realizou uma turnê de despedida em 2015, fazendo sua última apresentação no dia 31 de dezembro.
A reunião menos esperada deste ano, e que apareceu em um momento propício para o seu tipo de conteúdo, foi a do lendário Rage Against The Machine. A banda anunciou no dia 1º de novembro, através de sua conta no Instagram, o retorno aos palcos com cinco shows já marcados. Na publicação, a banda usou uma imagem dos protestos que estão ocorrendo no Chile, o que colabora para a mensagem que a banda passa em suas letras. Entre as datas anunciadas, estão dois dias do festival Coachella, na Califórnia. O grupo não se reunia desde 2011, quando anunciou seu fim, após uma última apresentação, em Los Angeles. Alguns integrantes haviam formado um supergrupo com membros do Public Enemy, intitulado Prophets of Rage, que anunciou seu fim para que os músicos do RATM voltassem à banda com o vocalista Zack de La Rocha.
Os ‘emos‘ também voltaram fortes nessa leva de reuniões em 2019. As bandas McFly e My Chemical Romance anunciaram seus retornos aos palcos. O McFly havia lançado seu último disco em 2010 e após isso entrou em hiato por 5 anos. Porém, em setembro deste ano o grupo anunciou sua volta com um show de reunião em Londres, na 02 Arena, no dia 20 de novembro e o lançamento de um álbum novo, sob nome de “The Lost Songs“, com canções perdidas durante a carreira da banda.
O My Chemical Romance, banda que fez muito sucesso nos anos 2000, anunciou em outubro que voltará aos palcos no dia 20 de dezembro, em um show no Shrine Expo Hall, em Los Angeles. Através de seu Instagram, a banda publicou um poster com o título de “Return”, que apenas informa sobre este evento e o início da venda de ingressos. Eles haviam decretado o fim das atividades em 2013.
Além de todas essas grandes bandas em um mesmo ano, houve também outros grupos, que como uma “reunião de família” retornaram ao mundo da música. A dupla Sandy & Júnior realizaram sua turnê comemorativa “Nossa História”, que celebrou os 30 anos de sua primeira aparição na televisão. Os irmãos passaram por 10 capitais brasileiras e encerraram o ciclo de shows no Parque Olímpico, no Rio de Janeiro, onde gravaram o DVD da reunião que ainda não tem data de lançamento. A turnê contou com um público aproximado de 600 mil pessoas.
Após seis anos parados, o trio Joe, Nick e Kevin Jonas anunciou o retorno do Jonas Brothers, boy band que fez sucesso em programas da Disney, como ‘Camp Rock’. A banda comemorou a volta com o lançamento de seu quinto álbum de estúdio, chamado ‘Happiness Begins‘.
Um dos retornos mais marcantes na história da música nos últimos anos aconteceu em abril de 2016, quando o Guns N’ Roses anunciou sua reunião com os principais integrantes da formação original da banda: Axl, Slash e Duff. Os músicos haviam feito seu último show juntos em 1993, na Argentina. Após diversas vezes afirmarem que a banda jamais reuniria sua formação original novamente e Axl declarar, em 2012, que a banda não retornaria nessa vida, a turnê intitulada “Not in This Lifetime… Tour” iniciou no dia 1º de abril, no bar Trobadour, na Califórnia, onde a banda realizou o primeiro show de sua carreira. Com mais de 400 milhões de dólares de bilheteira, esta turnê figura entre as cinco maiores turnês da história.
MOTIVAÇÃO
De acordo com o jornalista e produtor cultural Mauricio Trilha, a parte financeira é um dos principais fatores na decisão de retornar à ativa desses artistas, porém, não é o único. A saudade de tocar também contribui. Estar na estrada é viciante, segundo ele. “Banda é um casamento. Quem é músico, geralmente é casado com um companheiro (a) e com a sua banda. Como todo casamento, há altos e baixos. Às vezes, as pessoas simplesmente saturam de trabalhar juntas e depois de um tempo tudo se acerta“.
Para Maurício, outro motivo que também contribui para esse comportamento está relacionado aos dias atuais, onde os artistas não obtém renda através da venda discos e portanto, necessitam estar tocando para manterem-se financeiramente bem.
Diante de tantos retornos acontecendo quase que simultaneamente no cenário musical nesses últimos anos, Maurício acredita que isso seja uma tendência, mas não é uma novidade, pois, é recorrente no mercado do show bussiness. “A nostalgia mexe com o sentimental das pessoas e o sentimental faz com que essas pessoas comprem ingressos, consumam produtos e etc“.
FUTURO PESSIMISTA
“No mundo da música, a gente precisa recorrer cada vez mais ao passado, porque no presente, não surge nada de interessante e de grande impacto“, lamenta Maurício Trilha ao refletir sobre o cenário atual. Segundo ele, tudo isso coloca em dúvida se um dia teremos um novo fenômeno na música, algum artista que seja revolucionário e que sairá dessa realidade de ter um hit de sucesso para ficar na história por anos, como foram os Beatles, por exemplo.