– Por um lado, o argentino nascido em 1908 afirmava que seu ambiente era o caminho; sua sina era ser peregrino… e o demonstrava, vivendo quase todo o tempo na Europa e atuando em todo o planeta. Ao mesmo tempo, quantos criadores podem ser mais indissociáveis de seu lugar no espaço, seus pagos, do que esse trovador gaucho? Com esta indagação, Demétrio Xavier apresenta a homenagem que presta a Atahualpa Yupanqui, no próximo dia 31 de janeiro, sexta-feira, às 21h, no Café Fon Fon, na continuidade do Recital Cantos do Sul da Terra de janeiro.
– Aí é que surge a segunda provocação: que pagos são esses? Yupanqui cantou o trabalhador latino-americano, o indígena, o gaucho. Mas qual era sua “pátria chica”, como dizem os crioulos deste continente? Três microrregiões argentinas nos vêm à lembrança. A província de Buenos Aires, onde nasceu; aquele “pampa úmido” que o fez milongueiro e expressamente gauchesco. Depois, o Tucumán, que conheceu jovenzinho; o “reino das mais belas zambas da Terra”, com seus canaviais e suas insinuações de pré-cordilheira. E finalmente o místico, mágico, Cerro Colorado. Interior de Córdoba; lugar de pinturas rupestres, pedras e matos intocados, povoado de poucas famílias crioulas, que ele conheceu já na idade adulta e escolheu como sua querência”, comenta Demétrio Xavier.
Xavier conta que a família de Atahualpa é quem conduz, hoje, o museu em que se transformou aquela casa de pedra, em um lugar que o escritor, compositor e músico batizou “Água Escondida”. Todos os anos, na data de nascimento de Don Ata, faz-se lá uma celebração tão transcendente quanto íntima, em que as principais presenças são os músicos “yupanquianos”.
Demétrio Xavier é figura requisitada e frequente nesse encontro que tem muito de ritual, significado por tantos elementos constitutivos da obra do homenageado e a passos de sua tumba, sob uma árvore. O músico porto-alegrense dedica-se há 35 anos a esse repertório, a interpretá-lo, compreendê-lo, difundi-lo.
Este ano, nos 112 anos de Yupanqui, o Cerro Colorado de Demétrio Xavier, em Porto Alegre, será o Café Fon Fon, no Recital Cantos do Sul da Terra de janeiro. – Na data de nascimento daquele mestre, compartilharemos sua música, algo de sua vida, seu pensamento, sua literatura, antecipa. – E estaremos totalmente à vontade para isso, já que celebraremos alguém que viveu serenamente esse paradoxo: sua terra, sua raiz, seu universo mais próximo e querido são seus fundamentos – mas estão em todas as partes onde se souber e merecer evocá-los, finaliza.
SERVIÇO:
O Quê: Demétrio Xavier em “Cerro Colorado – 112 Anos De Atahualpa Yupanqui”
Onde: Café Fon Fon (Rua Vieira de Castro, 22, bairro Farroupilha) Porto Alegre/RS
Quando: Dia 31 de janeiro de 2020, sexta-feira, às 21h
Quanto: Couvert a R$ 15,00
Por: Silvia Abreu