A partir do dia 30/7, estreia em todas as plataformas digitais o álbum musical Alùjá, do alágbè Diih Neques Olákùndé. O trabalho, financiado pela Lei Aldir Blanc, contempla ainda um website, com partituras, letras e um documentário. A produção executiva é assinada por Lucas Luz, através de uma parceria com o Projeto Gema.
Alùjá conta com 12 faixas, todas escolhidas por Diih e por seu Babalorixá, Roger Olanyan de Aganju. Com o intuito de difundir para o público geral os toques e rezas das diferentes nações, ocupando outros espaços além do terreiro, o álbum foi elaborado pensando neste resgate da musicalidade afro do Sul do país. A ideia é registrar a tradição do Batuque e sua essência ancestral.
Os arranjos vocais foram pensados para que o trabalho pudesse ocupar espaços além dos terreiros, como palcos. Para captar com excelência a essência dos ilús e agês, o álbum contou com o trabalho de Lucas Kinoshita e Clauber Scholles, no estúdio Tamborearte, hoje uma das principais referências em gravações de percussão no Rio Grande do Sul. O álbum conta com participações de Dona Conceição, Dessa Ferreira e Gutcha Ramil (ambas integrantes das Três Marias, com quem Diih colabora em projetos sociais), Roger Olanyan de Aganju, seu pai-de-santo, e Bruno Amaral, de quem faz a direção musical nas gravações de seu primeiro álbum solo. Ainda, as partituras dos toques dos tambores, elaborados por Nise Frankline Angelo Primon, padrinhos musicais de Diih.
“Através dos doze nkorins gravados, somos apresentados aos doze orixás do batuque gaúcho, em uma experiência de sentidos, percorrendo os terreiros que nos habitam. Tudo isso é resultado de uma gentileza que nos é oferecida de graça, de forma completamente genuína por Diih Neques Olákùndé, alguém que mesmo muito novo, carrega dentro de si um tempo/espaço, onde acontece e nos permite acontecer”, comenta Lucas Luz, idealizador, produtor e diretor artístico do Projeto Gema.
Diih Neques é alágbè de terreiros de batuque no Rio Grande do Sul desde os seus 15 anos. Mas, como ele mesmo diz, sua primeira lembrança com o tambor dentro de um terreiro, vem de quando tinha oito anos. Hoje, aos 27, é músico percussionista, produtor musical e arte-educador, já tendo atuado em diversos projetos sociais nas periferias de Porto Alegre e Alvorada. Em sua caminhada musical, tocou e gravou com artistas como Angelo Primon, Adriana Deffenti, Três Maria, Dona Conceição, Noal, N.U.M.A, Maga Bo (produtor musical de Seattle/EUA) e Bruno Amaral. É alágbè de terreiros como Ilê Axé Águas de Oxum e Ilê Axé Omy Nanã.
“O Diih é de uma turma de guris de Alvorada, que ainda pré-adolescentes resolveram dar uma curva em sua história e trapacear os seus futuros previsíveis. Eles começaram o Nação Periférica, lá no bairro Umbu, projeto social que durante muito tempo foi referência, não apenas em Alvorada, mas em muitos lugares do Brasil. Com influências das bandas marciais negras dos Estados Unidos e principalmente do Afroreggae, por quem depois acabaram sendo apadrinhados, o Nação, quando em ação/cena, era algo inexplicável, uma sincronia de ritmos e corpos negros e jovens gritando para o mundo, fazendo política e os tirando de um lugar de invisibilidade”, comenta Luz.
“A gente sempre sofre repressão por estar tocando um tambor em cima do palco, por estar cantando a reza de orixá. E o Alùjáestá vindo para quebrar todo o preconceito e racismo que tem em cima da musicalidade de origem africana”, explica Diih.
Confira o vídeo teaser publicado em @projeto_gema: https://www.instagram.com/tv/CRjcesfAqqn/?utm_source=ig_web_copy_link
Projeto Gema
O Projeto Gema é uma iniciativa musical multiplataforma – composto por documentários, podcasts, textos, fotografias e revistas sobre a música regional do Rio Grande do Sul. O fio condutor do projeto é a musicalidade, a diversidade e os diferentes fazeres musicais (ritualísticos, espirituais, celebrativos e de entretenimento) dos povos que compõem a herança cultural do estado. É também objeto e conteúdo desta iniciativa a cultura popular ancestral e os mestres e comunidades tradicionais que habitam seu território.
O Gema começou fazendo o registro de pessoas mais velhas. Mas hoje, segundo Luz, “é urgente a necessidade de registrarmos pessoas como o Diih: preto, pobre, periférico e, no caso dele, batuqueiro”.
Projeto executado através do Edital Criação e Formação Diversidade das Culturas realizado com recursos da Lei Aldir Blanc no 14.017/20.
Por: Raphaela Donaduce Flores