Pitty nunca imaginou que quase vinte anos depois ela continuaria sendo um dos maiores ícones do rock brasileiro, uma mulher de relevância na sociedade e celebrando duas décadas de um disco atemporal: “Admirável Chip Novo” (2003). Disco que já nasceu clássico, com faixas icônicas, letras visionárias e que veio como um pé na porta do rock nacional por uma, até então, improvável baiana revirando o cenário nacional de cabeça pra baixo. Mesmo sendo conterrânea de Raul Seixas e Marcelo Nova, ela foi vista inicialmente com desconfiança pela crítica musical. Mas isso tudo foi lá atrás.
No último sábado (22), com um Araújo Vianna completamente lotado, Pitty fez sua 25ª apresentação em Porto Alegre desde sua estreia em 03 de junho de 2004, no Opinião, justamente na tour que apresentava ACN pela primeira vez aos gaúchos (momento este que ela relembrou durante a apresentação). Desde então, ela passou por quase todos os grandes palcos da capital (Teatro do Bourbon Country, Teatro do Sesi, Pepsi on Stage, Gigantinho, FIERGS). Quase tocou no Anfiteatro Pôr do Sol com o Nivea Viva Rock Brasil, em 2016, mas teve que cancelar sua participação na turnê por recomendação médica. Só não tocou ainda no Theatro São Pedro.
Às 21:30 a baiana subiu ao palco para uma sequência de três atos que duraram pouco mais de uma hora e meia. A primeira parte é a execução do celebrado álbum de lançamento da carreira de Pitty, na íntegra e na ordem original das canções do disco, o que gerou um bombardeio de hits do naipe de ‘Teto de Vidro’, ‘Admirável Chip Novo’, ‘Máscara’, ‘Equalize’, ‘O Lobo e ‘I Wanna Be’. Fechando o primeiro ato com ‘Semana que Vem’ ela ainda manda um trecho de ‘Seu Mestre Mandou’, lançado em versão deluxe do mesmo álbum.
O segundo ato veio com alguns covers de Bad Brains (‘Sailin’ On’), Shocking Blue (‘Love Buzz’) e The Velvet Underground (‘Femme Fatale’) que deu uma pausa na extasiante euforia da plateia e o tempo pra ir ao banheiro ou pegar mais uma cerveja no bar. Essa sessão de covers mostrou o lado intérprete que encantou as plateias do Brasil durante o giro da ‘Admirável Turnê Nova’, lá por 2004 e 2005.
Após uma rápida apresentação da banda, Pitty anuncia o terceiro e último ato com um final redentor com quatro clássicos dos três álbuns seguintes ao ACN: ‘Setevidas’ (2014), ‘Memórias’ e ‘Na Sua Estante’ (Anacrônico, 2005) e encerrando a noite celebrando com um coro uníssono em “Me Adora’ (Chiaroscuro, 2009).
Ao fim e ao cabo, esta apresentação mostra como Pitty segue sendo, vinte anos depois, uma referência musical no BRock, um exemplo de mulher independente, empoderada, cidadã e socialmente engajada. Com suas posições públicas fortes e uma vida pessoal discreta, a cantora baiana segue reinando como o grande ícone feminino do rock brazuca desde a década passada, quando Rita Lee se aposentou dos palcos e da música.
Vida longa à carreira de Pitty, e em 2024 precisamos celebrar estes 20 anos de shows na capital gaúcha.