O ano era 2000, virada de século. O rock nacional vivia uma entressafra: os grandes nomes dos anos 80 e 90 já estavam consagrados – e em muitos casos, também um tanto esgotados – enquanto os artistas da nova geração ainda não haviam despontado. Nesse cenário de transição, os medalhões do rock e da MPB encontraram um novo fôlego nas versões desplugadas de seus sucessos para o especial Acústico MTV, que rapidamente se transformaram em CDs e DVDs de grande sucesso.
Foi nesse contexto que o Capital Inicial entrou para a história da música brasileira. De forma despretensiosa, a banda gravou sua participação no programa sem imaginar a avalanche que estava por vir. O resultado? Um dos episódios mais emblemáticos e bem-sucedidos do projeto “Acústico MTV”, responsável por alavancar o grupo de volta ao topo das paradas e marcar definitivamente sua trajetória.
Na noite desta sexta-feira, 11 de abril, o Capital Inicial desembarcou no palco do Araújo Vianna para celebrar os 25 anos desse álbum histórico, que simbolizou o renascimento da banda no cenário nacional. Com casa lotada, Porto Alegre reviveu, ao longo de duas horas de show, o auge do grupo brasiliense. O próprio Dinho Ouro Preto anunciou o sold out da primeira das duas apresentações no auditório.
O roteiro da turnê, com 23 músicas, tem se mantido fiel ao longo das apresentações pelo Brasil. As sete primeiras seguem exatamente a ordem do álbum original. Desde os primeiros acordes, a plateia embarca em um clima de revival, cantando todas as letras em coro. Com “O Passageiro” e “O Mundo”, a nostalgia já toma conta do Araújo. Antes de “Leve Desespero”, Dinho compartilha com o público a história da composição da faixa, que levou mais de três meses para ser finalizada. A primeira grande catarse da noite chega com “Eu Vou Estar” – originalmente cantada em dueto com Zélia Duncan –, que é assumida em uníssono pela plateia.
Após a sequência romântica de “Cai a Noite”, “Fogo” e “Olhos Vermelhos”, vem o momento mais emocionante do show: “Primeiros Erros (Chove)”. O público canta a plenos pulmões e ovaciona o cantor e compositor Kiko Zambianchi, que acompanha a turnê assim como fez há 25 anos. Em seguida, o show resgata as raízes da banda, encerrando a ordem do disco com três músicas herdadas da época do Aborto Elétrico: “Fátima”, “Veraneio Vascaína” e “Música Urbana”.
Alguns sucessos do período pós-acústico também entraram no repertório, como “Mais”, “Como Devia Estar”, “Depois da Meia-Noite” e “Não Olhe pra Trás”. A explosiva “Natasha” foi estrategicamente reservada para o final, causando a terceira catarse da noite – com o público ensandecido pulando e cantando entre as cadeiras do auditório.
Houve ainda tempo para relembrar momentos marcantes da história da banda com o público gaúcho: a época em que o grupo tocava na Ipanema FM, as multidões no Gigantinho, no próprio Araújo Vianna e, claro, os memoráveis shows no Planeta Atlântida.
No bis, uma homenagem comovente a Pit Passarell – irmão do guitarrista Yves, falecido em 2024 – com a canção “Algum Dia”. Na sequência, “Quatro Vezes Você” e “A Sua Maneira” encerraram com energia uma noite memorável. Já com a banda fora do palco, Dinho se despede com um último gesto de conexão com o público: a plateia, em coro, canta à capela “Por Enquanto”, da Legião Urbana – um fim emocionante para uma noite inesquecível.