Na semana em que lembramos de Elis Regina, nos 42 anos da sua morte, Porto Alegre recebeu o maior musical feito em sua homenagem: “Elis, A Musical”. Completando 10 anos, o espetáculo voltou ao cartaz no ano passado, com temporadas no Rio de Janeiro e em São Paulo. Neste ano, irá percorrer as principais capitais brasileiras, começando por Porto Alegre no final de semana passado, no Theatro São Pedro, em quatro sessões, todas com ingressos esgotados.
Em três horas de espetáculo, com um intervalo de 15 minutos, quinze atores encarnaram alguns dos principais personagens da música brasileira de todos os tempos, como Tom Jobim, Miele, Jair Rodrigues e Nelson Motta. Elis, a protagonista, foi encenada por Laila Garin. Lilian Menezes atuou na sessão das 17h de sábado. No elenco, também estão nomes como Cláudio Lins (César Camargo Mariano) e Flávio Tolezani (Ronaldo Bôscoli).
Num musical ágil e riquíssimo em detalhes de todas as épocas perpassadas, desde a adolescência de Elis na apresentação na Rádio Farroupilha, passando pela chegada ao Beco das Garrafas, no Rio, até o show “Trem Azul” (que ela apresentou no Gigantinho, em setembro de 81, quatro meses antes de sua morte), são executadas mais de cinquenta canções que marcaram a música nacional e emocionaram gerações, como “O Bêbado e a Equilibrista”, “Como Nossos Pais”, “Madalena”, “Aprendendo a Jogar” e “Vou Deitar e Rolar”. No encerramento do primeiro ato, duas canções arrebatadoras e de uma carga emotiva gigantesca: a intensa “Atrás da Porta” e a clássica “Casa no Campo”.
Já no início do segundo ato, num dos momentos mais marcantes, ela apresentou um pout-pourri de Milton Nascimento com “Maria Maria”, “Fé Cega, Faca Amolada”, “Canção da América”, “Nada Será Como Antes” e “Paula e Bebeto”, finalizando a homenagem com a famosa frase: ‘Se Deus cantasse, ele cantaria com a voz de Milton Nascimento!’. A peça também relembra um dos momentos decisivos da MPB, com a gravação do disco ‘Elis & Tom’ com “Águas de Março”, “Só Tinha de Ser com Você”, “Wave” e “Dois pra Lá, Dois pra Cá”.
Apesar de não esconder o caso da apresentação nas olimpíadas do Exército de 1972 e as consequentes críticas de Henfil, ao enterrá-la no cemitério do Cabôco Mamadô, no jornal Pasquim, o texto de Nelson Motta e a direção de Dennis Carvalho mostram uma versão bastante positiva da artista gaúcha. Finaliza como iniciou, com “Fascinação” e sem mencionar o conturbado final de vida de Elis.
O espetáculo celebra o legado de um dos nomes fundamentais da música brasileira, com todas as suas qualidades e imperfeições. Uma voz inigualável, até hoje, na música nacional. E uma artista que conseguiu transformar em sucesso tudo o que se propôs a fazer.